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10/05/2010

Clube de Leitura de Jane Austen (The Jane Austen Book Clube, 2007)





Clube de Leitura de Jane Austen poderia ser chamado de um meta filme. Seria um filme sobre algo contido em outro filme ou livro. O enredo está direcionado a algo contido em outra obra e ambas criam uma conexão ao longo da trama.
Uma película que começa com muitas cenas cotidianas de estresse. Trânsito caótico, cidades lotadas, máquinas e computadores mecanizando nosso dia a dia. Tempo escasso para se pensar, sentir, elaborar e vivenciar. Egos pressionados por todos nos lados, pelos mais fortes estímulos. Difícil tarefa de negociação, visto que este “senhor do Ego” demanda tanta energia psíquica.


Situaçao de luto por um cachorro de Jocelyn. Poderia ser cômico, se a personagem Allegra não iniciasse seu discurso sobre vínculos afetivos, dando uma aula a seu pai, sobre o que são relações objetais. Nos relacionamos com objetos e estes podem varias desde pessoas, animais, imagens, fantasias, perpassando por objetos concretos ou abstratos.
Corta o plano para uma cena com Prudie, a personagem que talvez mais desperte sentimentos negativos no filme. É sempre deixava de lado, em segundo, terceiro ou quarto plano. Aprendemos que isto é uma forma de relação que vem desde sua infância, de uma criação complexa, com uma mãe alternativa. Seu casamento não seria diferente. Nenhum se construirá sem estas personagens complexas e ambíguas. (#ficadika)
Cada personagem trará para a trama alguns dos pontos mais fortes das personagens descritas por Austen ao longo de suas obras. Por mais que o telespectador não conheça a obra desta autora, nem mesmo a reconheça como uma autora de verdade (meta história), fica claro os traços mais importantes de cada personagem presente neste grupo terapêutico que está prestes a se formar
Allegra traz um simbolismo com uma cena de salto de pára-quedas. Liberdade total. É livre, bem resolvida e disposta a viver a vida nos seu limiar. O seu “outting” na trama se dá quando se mostra ao público de uma maneira despojada e solta, e conhece sua futura namorada. Até este momento, a sexualidade de Allegra está subentendida, muito subliminar na trama, e é muito comum alguns espectadores se mostrarem surpresos. Revendo o filme você pode identificar desde o início algumas pistas deixadas pelo autor. É como aquela mãe que, quando fica sabendo sobre a homossexualidade de um filho ou filha, se mostra surpresa, e depois de elaborado, percebe que as “pistas” estiveram sempre presentes. Há uma intensa comunicação inconsciente e que, no senso comum, se verbaliza na forma “a mãe sempre sabe”...
A maneira como Jocelyn se relaciona com os animais é a mesma com a qual se relaciona com os humanos. É com suas amigas, da mesma forma com seus cachorros. É super protetora, tribal e quase pastora (não no sentido religioso). Quando descreve sobre o macho alfa, acasalamentos e criação de animais, está descrevendo a maneira como se relaciona com os humanos. Tenta manter uma distância e racionalização, mas tudo não passa de mecanismos de defesas.
O nosso grupo terapêutico bem pichoniano está formado, com integrantes complexos, dispostos a liberarem seus conteúdos inconscientes de forma direta. Todos têm um motivo para participar do grupo. Motivo que não seja, propriamente falando, a participação no grupo. A Tarefa está definida, mãos a obra!
As cenas de encontro se tornam verdadeiros ping-pongs de inconscientes. É lindo ver como as situações são desencadeadas e como elas passam de manifesto a latente em questões de segundos. Num piscar de olhos você já não sabe mais se estão falando dos filmes ou de si mesmos. Quase sempre o mais fragilizados egoicamente naquele mês, tem insight, e o grupo se recolhe na forma de contenção. Egos auxiliares que precisam se mostrar capazes de segurar aquele conteúdo que incomodava aquele que o “cuspiu”.
Silvia é sempre o foco das atenções, mas nem sempre é a que tem os insights. As brigas constantes entre Prudie e Allegra nos mostram como os grupos, por vezes, demonstram conflitos, que podem ser muito benéficos a seu crescimento como tal. Reparem quem socorre Prudie na catarse d morte de sua mãe. Silvia é a que, nitidamente, estava em maior sofrimento psíquico no momento de formação do grupo, mas, nosso inconsciente é atemporal, e conflitos serão sempre conflitos.
Isso quer dizer que um sofrimento não tem data de validade, e quando ele decidir incomodar a consciência e pressionar este pobre ego, terá tanta força quanto teve no momento de seu recalque. Uma amostra disso é a complexidade da dor sentida por Prudie ao relatar toda a sua complexa relação com sua mãe. Passagem aberta por um momento de luto, onde suas defesas se baixaram, dando lugar a uma necessidade de desprendimento libidinal de algumas relações objetais. É hora de perdoar, no sentido mais psicanalítico, e elaborar, visto que o objeto real se foi.
Ao longo do filme temos a possibilidade de aprender com cada personagem, em casa momento distinto do filme. Seja nas questões individuais, seja nas questões grupais. Este filme, pela excelente maneira de retratar a complexidade humana, seja nas suas personagens, ou nas meta personagens, se mostra como um excelente instrumento para entendimento de alguns fenômenos psíquicos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom Edu, decidi nao ler seu artigo para não me influenciar e "inconscientemente" escrever algo semelhante. Depois que eu fizer o trabalho dou uma olhadinha. Gostei do Blog, em bacana. abs.
Décio.

Anônimo disse...

Prof:só gostaria de saber se voce recebeu meu trabalho. enviei Sábado a noite.
Esmeraldina

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